A mulher é apaixonada pelo seu amado e ao mesmo tempo ela possui uma auto-imagem saudável. Assim como descreve a sua intensa paixão pelo seu amado igualmente ela se apresenta como uma mulher formosa. Na primeira expressão do primeiro poema dos cânticos, ela introduz o pensamento a respeito de si mesma de forma intrigante. A maioria das traduções traz a declaração
“sou morena, mas formosa, ò filhas de Jerusalém,
como as tendas de Cedar
e os pavilhões de Salma
. Neste texto poético está
indicando cor da pele que numa tradução
literal seria “eu sou preta” A
comparação das cabanas a beleza da mulher estão no fato que ambas foram
enegrecidas pelo sol. Embora tivesse escurecido a sua pele, a mulher não perdia
a sua beleza. A Bíblia King James, segue este pensamento
quando traduz: “Eu sou negra mas bela”. A Bíblia na Linguagem de Hoje
desenvolve a mesma idéia ainda que com
um certo conservadorismo:
“Mulheres
de Jerusalém, eu sou morena, porém sou bela. Sou morena escura como as barracas do
deserto, como as cortinas do palácio de Salomão”.
Ela
justifica a sua cor comparando-a com imagens que trazem a sua beleza à tona. A
questão que deve ser levantada é por que esta defesa da sua cor? Segundo a
mulher a sua beleza esta acima de ser negra. Racismo? Preconceito? Na
antiguidade quem fazia o trabalho escravo possuía uma cor morena ou preta. A
cor branca da pele era considerada um traço de alto nível social. Quem oferecia
a sua força de trabalho eram homens e mulheres que trabalhavam no sol
escaldante do oriente diariamente. Os ricos e aristocratas se protegiam do sol
nas suas casas. Esta
defesa de beleza esta sendo feita diante “das filhas de Jerusalém” que estariam
representando a aristocracia. Jovens que não trabalhavam ao ar livre e
menosprezavam as mulheres que labutavam ao ar livre e a sua pele era escura. A
mulher defende e expressa a sua beleza de cor. A mesma expressão em defesa da
sua paixão exposta no prólogo em relação ao seu amado, agora é feita em relação
de si mesma. Ser negra é ser bela.
Embora
as tendas de Quedar pareciam ter um aspecto rústicos, áspero. Não se pode
esquecer que dentro dela também estavam guardado jóias, diamantes e riquezas.
Possivelmente o desejo da mulher é apresentar quem ela é externa e
internamente. Da mesma forma como tinha falado do seu amado ao declarar nos versículos anteriores “teu nome é como um
óleo...” (Cf.1:3)
Mesmo com a sua carga diária de trabalho, ela tinha
tempo para dar amor ao seu amado. E também se descobrir bela mesmo diante de
uma situação social da época um tanto desvantajoso. O trabalho nem a cor
impedem a beleza feminina. Eles podem se tornar aliados na descoberta da
sexualidade, liberdade de amar e da beleza pessoal. Para a mulher a entrega e recebimento de amor
independe da cor e da classe social.
Amor não tem cor nem raça. Basta amar, se entregar e desfrutar do prazer
oferecido por esta dádiva divina. A sua consciência da sua beleza
independe da situação social. Mesmo sendo obrigada a um trabalho que não era
peculiar, ela declara a sua beleza. Ela
não é soberba nem ingrata. Ela é equilibrada emocionalmente ao deixar sem
questionamentos a sua beleza. Ela não usa a sua beleza para um lucro pessoal
mas antes para ser oferecida ao seu amado.
Em relação a aos pavilhões da tribo
de Salma, algumas traduções trazem “como as cortinas de Salomão”. Se esta for a
melhor tradução teríamos o uso de duas figuras opostas para indicar a beleza
física da mulher. As barracas ásperas e rústicas de Quedar e a aristocracia das
cortinas dos aposentos de Salomão. O texto pode ser traduzido como pavilhão ou
cortinas decorativas. Há beleza em ambos lugares. Ao mesmo tempo a pratica do
amor e o erotismo pode acontecer na barraca ou num quarto. Ambos lugares são
usados para indicar não haver lugar para o amor
A justificativa da cor da sua pele é
afirmada pela mulher””Não olheis eu ser morena: foi o sol que me queimou; ...”(BJ)
O seu trabalho diário tinha queimado a sua pele. Mas a razão de trabalhar ao
sol é fruto da raiva ou castigo dos irmãos, pois afirma que eles “se voltaram
contra mim fazendo-me guardar as vinhas...”(BJ) Não esta clara a razão porque
os irmãos fazem isto. É provável que seja uma punição em razão da quebra das
tradições sociais da época. A mulher tinha escolhido o seu amado. As regras
sociais estabelecidas eram que os
responsáveis pela mulher, o pai, na falta deste os irmãos mais velhos, deveriam
procurar o esposo para a mulher. Mas a sexualidade e sensualidade não está
atrelada a tradições sociais nem religiosas. A mulher também era livre para
expor seu desejo. Ela se sentia livre para escolher o seu amado. O coração e os
seus sentimentos vão além da imposições sociais
O cuidado que ela devia ter com as
vinhas dos seus irmãos a leva a descuidar da sua própria vinha. Alguns têm
indicado que a idéia da “minha vinha” esteja apontando a sua virgindade ou
ainda o seu próprio corpo. Visto que ao trabalhar diariamente no sol, a sua
pele tinha escurecido, como ela mesma já
aludiu anteriormente. Ela não tinha tempo de cuidar de si mesma e tomar os cuidados
necessários para se guardar para o seu amado. A duvida está no fato se ela já tenha perdido
a sua virgindade contra a sua vontade. Mas mesmo assim ela ainda esta em busca
do amado da sua alma. Ela procura àquele que recebera não somente o seu corpo,
mas o seu amor, o seu desejo. Ela será toda dele
O
desejo da mulher é que esta búsqueda se concretize. Ela coloca um horário para
este encontro. Ao meio dia. Possivelmente é a hora em que os rebanhos e os
pastores têm a sua hora de descanso. O seu desejo particular é não haver perda
de tempo. “... para que eu não vague perdida”. Se não souber exatamente o lugar
onde seu amado esta; ela será obrigada a buscar entre os outros pastores o
amado da sua alma. Isso poderia trazer confusão para os pastores ou os homens
que a vissem vagueando. Ela poderia se confundida com uma prostituta. Era comum
nas regiões de rebanhos haver prostitutas no campo ou nos caminhos
(Cf.Gn:38:14ss) Ela deseja evitar ser confundida com uma rameira. Esta é
uma implicação que a jovem deseja evitar. Ela precisa ser identificada como uma
mulher apaixonada pelo seu amado e não há outro para quem ela deseja entregar o
seu amor. Não há desejo de sexo mas há vontade de amar. As prostitutas vendiam
seu corpo. A mulher apaixonada deseja entregar-se ao amor.
Não deseja se sentir perdida na sua busca. “Se
eu não o souber serei como uma mulher coberta com véu junto aos rebanhos dos
seus amigos”. Os tradutores se esforçam achar uma explicação do véu. A questão
do véu confirma a necessidade de saber o paradeiro do seu amado. Deseja
encontra o seu dono. Por isso se torna de urgência saber onde o pastor amado
descansa com as suas ovelhas. Para ela não se “esconder” por trás de um véu.
Ela deseja mostrar o seu rosto porem se descobrir tão somente ao seu amado.
Enquanto não o achar ela estará “embrulhada” se escondendo. Os
companheiros do seu amado precisam saber que ela não é uma prostituta à beira
do caminho ou vendendo o seu corpo. Com relação ao véu alguns intérpretes
apontam que a questão de estar coberta a sua cabeça pode estar representando a tristeza da
separação e da busca pelo parceiro.
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